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Reforço do Isolamento Térmico nas Envolventes Exteriores

Em Portugal, uma das maiores queixas ouvidas sobre a habitação é o desconforto sentido a nível térmico. É habitual o utilizador comum queixar-se frequentemente, no interior da sua casa, de frio durante o inverno e de excesso de calor durante o verão. Estas queixas obrigam, muitas vezes, à utilização de equipamentos elétricos ou a gás para combater o desconforto sentido. Tais equipamentos, além de poderem vir a apresentar um peso significativo na fatura de eletricidade ou de gás, obrigam a um consumo maior dos recursos necessários para gerar essa energia.

Contudo, é importante compreender os motivos deste desconforto térmico no interior das habitações. É do conhecimento geral que a espessura e a condutibilidade térmica são duas variantes determinantes para o conforto térmico. É compreensível que, portanto, seja natural o uso de vestuário como lã ou poliéster durante a estação de inverno e de peças de algodão durante a estação de verão.

A partir de meados do século XX, com a utilização massiva do betão armado como elemento estrutural, a construção em Portugal passou a ser caraterizada por uma diminuição da espessura dos elementos constituintes das envolventes exteriores1, visto que até a partir desse período as paredes deixaram de desempenhar uma função estrutural. Esta diminuição da espessura foi notória não só nas envolventes opacas como nas envolventes envidraçadas, com muitas habitações a serem construídas apenas com vãos constituídos por vidros simples. Existem inúmeras situações de paredes exteriores constituídas apenas por uma camada de suporte de tijolo de 11 ou de 15 centímetros de espessura revestida exteriormente por uma camada de reboco cimentício e interiormente por uma camada de gesso na forma de estuque, como está representado no exemplo abaixo.

Acresce que muitos exemplos destes são também caraterizados por uma envolvente envidraçada constituída apenas por vidro simples.  Facilmente se compreende que exemplos destes oferecem pouca inércia térmica a um edifício.

Intervir, ao nível dos materiais isolantes térmicos nas envolventes exteriores de um edifício pode, assim, ter um impacto considerável na inércia térmica e consequentemente diminuir as perdas energéticas do edifício com o exterior. Tal intervenção permite melhorar o conforto térmico dos utilizadores e, tão importante, reduzir a necessidade de utilização de equipamentos elétricos ou a gás para aquecimento ou arrefecimento das habitações (principalmente se funcionarem com recurso a combustíveis fósseis). No esquema abaixo apresenta-se uma solução de parede dupla com a implementação de isolamento térmico entre duas camadas de tijolo e uma caixa-de-ar. Uma tipologia semelhante a esta, quando bem executada, pode representar melhorias significativas a nível de conforto térmico para os utilizadores da habitação.

A nível económico, a aposta no reforço do isolamento térmico em envolventes exteriores pode significar poupanças a longo prazo. Embora implique um investimento maior numa fase inicial com fornecimento de materiais e aplicação de mão-de-obra, a longo prazo pode constituir o retorno desse investimento inicial através de poupanças significativas na fatura de eletricidade ou de gás. Apresenta-se, abaixo, um gráfico resultante de um estudo realizado para analisar o comportamento energético de um edifício localizado no concelho de Boticas, para o horizonte de tempo de 30 anos. Este gráfico analisa, para a solução de parede dupla, a relação entre as necessidades primárias de energia para aquecimento e arrefecimento e os custos ao longo desse horizonte de tempo. Estes custos analisados foram os custos iniciais, relacionados com o fornecimento dos materiais e aplicação de mão-de-obra, e os custos de exploração relacionados com a manutenção de equipamentos e faturas de eletricidade/gás. Estes dois custos foram relacionados entre si para então determinar o custo global da solução.

É percetível no gráfico em questão que o valor global da solução diminui à medida que as necessidades primárias de energia também diminuem. Tal fato evidenciado pelo estudo em causa permite compreender que uma solução para envolventes exteriores reforçada com isolamento térmico adequado constitui ganhos consideráveis ao longo do tempo de vida útil do edifício. 

Após esta análise, convida-se o leitor a implementar uma solução adequada de isolamento térmico para as envolventes exteriores da sua obra de construção ou de reabilitação, visto que tal solução, além de reduzir a necessidade de aparelhos para aquecimento e arrefecimento, pode ser traduzida em poupanças consideráveis a longo prazo.

1Por envolvente exterior de um edifício consideram-se a cobertura e as paredes que fazem a separação com o exterior.

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