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Coberturas Ajardinadas

A cobertura de um edifício é um elemento essencial para a sua existência na medida em que funciona de abrigo contra intempéries e intrusões, bem como protege contra variações de temperatura.

Existem duas tipologias de coberturas, as inclinadas e as planas. A escolha desta tipologia depende, muitas vezes, das necessidades a nível de espaço interior ou exterior ou simplesmente por motivos relacionados com a estética pretendida para o edifício.

As coberturas podem ter diversas classificações em relação à sua acessibilidade e à sua função específica. Entre essas funções específicas destacam-se as coberturas ajardinadas ou coberturas verdes. Este tipo de solução não é propriamente uma novidade dos tempos atuais, uma vez que existem registos, datados do século VI A.C, do Palácio do Rei Nabuchodonosor II que comportava grandes terraços ajardinados no seu topo.

Exemplo de Edifícios com Coberturas Ajardinadas

Sob o ponto de vista ecológico, esta tipologia de cobertura apresenta uma vantagem excecional. A vegetação constituinte permite a renovação de ar, diminuindo os níveis de dióxido de carbono e aumentado os de oxigénio. Além desta grande vantagem que permite reduzir a pegada de carbono, este tipo de coberturas apresenta outras qualidades interessantes. Em Portugal, um dos principais instaladores de coberturas e de fachadas define as principais qualidades de uma cobertura verde, além da ecológica:

  • Térmico: Do ponto de vista térmico, este tipo de coberturas poderá constituir uma solução interessante na medida em que aumenta a inércia térmica do edifício em parte devido à espessura e baixa condutibilidade térmica do substrato vegetal. Contudo, para esta inércia térmica ser garantida, é fundamental que o sistema de impermeabilização seja aplicado nas devidas condições, por forma a evitar a passagem de água e o aumento da condutibilidade térmica para o interior do edifício. Neste aspeto de conforto térmico proporcionado por estas coberturas, destaca-se também a vegetação existente, a qual durante o verão, permite uma reflexão dos raios solares incidentes, impedindo assim a sua incidência para o interior através da cobertura.
  • Acústico: Sob este ponto de vista, as coberturas ajardinadas apresentam um comportamento interessante na medida em que o peso imposto pela terra vegetal o favorece neste aspeto, nomeadamente no que respeita à aplicação da lei da massa. Esta lei define que, para uma dada frequência sonora, o índice de isolamento acústico a ruídos aéreos de um elemento de construção cresce proporcionalmente ao logaritmo da sua massa por unidade de superfície. Além disso, é de referir que as ervas que constituem o revestimento vegetal bem como a eventual presença de plantas criam um atrito entre os seus elementos que dificulta, ainda mais, a penetração das ondas sonoras no interior do edifício.
  • Económico: O benefício que esta solução acresce a nível térmico, promovendo a inércia no edifício onde é aplicada, permite por sua vez uma melhor eficiência energética do próprio edifício. Este fato, por sua vez, favorece diretamente o aspeto económico através da redução dos custos com recurso a equipamentos para aquecimento e ventilação.
  • Estético: Embora este aspeto possa ser muito relativo, tendo em conta cada gosto individual, é unânime compreender o impacto positivo que uma cobertura verde causa nos seres humanos. São inquestionáveis os efeitos terapêuticos que a natureza e as plantas têm nas pessoas, proporcionando nelas sensações de bem-estar e de conforto.

Constituição de uma cobertura ajardinada

Uma cobertura ajardinada é constituída por camadas que assegurem a sua correta funcionalidade. Entre essas camadas incluem-se, no sentido ascendente:

  • Estrutura resistente;
  • Camada de forma/ betonilha de regularização
  • Camada de impermeabilização;
  • Camada de Isolamento térmico (pode inverter com a camada de impermeabilização, consoante os materiais que se estejam a aplicar);
  • Camada drenante;
  • Camada filtrante;
  • Substrato de terra vegetal.
Esquema base de cobertura ajardinada

1. Estrutura Resistente

A estrutura resistente refere-se à laje da cobertura que irá suportar todas as restantes camadas. Tendo em conta as cargas elevadas a que este tipo de cobertura está sujeito, a sua estrutura é constituída, em geral, por uma laje de betão armado ou pré-esforçado.

Em uma cobertura plana, é fundamental existir uma camada inclinada que garanta a pendente adequada por forma a que as águas pluviais tenham o seu devido escoamento e, assim, se evitem riscos relacionados com possíveis infiltrações. Acresce que, no caso de coberturas ajardinadas, a pendente assume especial importância na medida em que um teor de água superior àquele que algumas espécies possam suportar, poderá conduzir à sua asfixia. Esta camada inclinada pode ser executada aquando da laje resistente, ficando sobre ela com a devida inclinação, ou pode ser executada uma camada de forma, constituída por uma betonilha simples com a pendente adequada que permita o devido escoamento da água. Recomenda-se que a pendente de uma cobertura ajardinada deva ser entre 1% a 2%.

2. Camada de Isolamento Térmico

A camada de isolamento térmico numa envolvente exterior de um edifício (cobertura ou parede) é fundamental essencialmente por dois motivos.

  • Aumenta a temperatura superficial interior do paramento, evitando condensações as quais se manifestam através de humidades;
  • Aumenta a inércia térmica do edifício, proporcionando conforto interior quer de verão, quer de inverno. Este fenómeno reduz assim a necessidade de utilização de aparelhos a gás ou elétricos para aquecimento ou arrefecimento.

Consoante o material a utilizar, a camada de isolamento térmico pode ser utilizada sob ou sobre a camada de impermeabilização. Embora, no caso de coberturas ajardinadas, a existência do substrato vegetal, devido à sua baixa condutibilidade térmica, confira ao edifício alguma resistência térmica, essa baixa condutibilidade só é garantida quando o mesmo substrato estiver seco. Se estiver húmida, a condutibilidade térmica da terra aumenta consideravelmente, levando à diminuição da resistência térmica da cobertura verde. Este é um bom motivo para que uma cobertura ajardinada seja reforçada com uma camada de isolamento térmico.

Em Portugal, o Regulamento Habitacional de Edifícios divide o território continental em três zonas climáticas para verão (V1, V2, V3) e outras três zonas climáticas para inverno (I1, I2, I3). Estas zonas são determinadas com base em índices de grau-dia e de temperatura média exterior, respetivamente para as zonas climáticas de inverno e de verão. Com base nestes índices, determina-se a espessura de isolamento térmico adequada a adotar para cada região climática.

3. Camada de Impermeabilização

A camada de impermeabilização numa cobertura ajardinada tem, como o nome indica, a função de garantir a exigência de estanquidade à água.

Além dos cuidados que a aplicação desta camada exige em qualquer cobertura, numa cobertura ajardinada exige especial cuidados tendo em conta a existência das espécies vegetais plantadas. Este fato obriga à proteção desta camada de impermeabilização, em particular, contra ações perfurantes que daí possam advir. Por esta razão, é aconselhável que neste tipo de coberturas exista uma membrana alveolar sobre a camada de impermeabilização que proteja esta mecanicamente das raízes, diminuindo assim as hipóteses de perfuração.

Em relação à constituição dos materiais, existem essencialmente dois tipos. Os mais tradicionais, aqueles constituídos por betume a quente e os menos tradicionais constituídos por membranas de PVC.

4. Camada Drenante

A função desta camada é, como o próprio nome indica, permitir o fácil escoamento da água que circula por percolação no substrato de terra vegetal até aos dispositivos de evacuação.

Entre os materiais que podem constitui esta camada, destacam-se:

  • Seixo rolado;
  • Argila expandida;
  • Brita;
  • Placas nervuradas de poliestireno expandido.

5. Camada Filtrante

A existência de uma camada filtrante é fundamental numa cobertura ajardinada. Isto porque, por ser a camada que está imediatamente abaixo da terra vegetal, retém os materiais finos presentes nela, impedindo assim que penetrem para a camada drenante e, permitindo, deste modo, o fácil escoamento da água nessa camada.

Os materiais a utilizar para esta camada necessitam de determinadas caraterísticas que os tornem aptos a desempenhar a sua função, nomeadamente a resistência ao rasgamento e ao punçoamento e a permeabilidade à água. Deste modo, aconselhamo-lo a escolher um material como os feltros não-tecidos de fibras de polipropileno ou de fibra de vidro.

6. Terra Vegetal

Uma cobertura ajardinada, para ser considerada como tal, tem de terminar com uma camada de terra vegetal cuja função é, naturalmente, permitir o crescimento das espécies vegetais nela plantadas. Em relação à espessura deste substrato, a mesma está dependente das condições de rega. Segundo os especialistas, quanto menor a periodicidade com que o substrato vegetal for regado, maior deve ser a sua espessura por forma a reter a água o tempo suficiente para o desenvolvimento das espécies vegetais. Contudo, muitos especialistas defendem uma espessura mínima de 30 centímetros para este substrato.

Caso esteja a pensar adotar uma cobertura plana para o seu projeto, ou até mesmo um terraço, convidamo-lo a adotar uma solução semelhante à descrita neste artigo. Além de ser uma solução naturalmente ecológica pelas renovações de oxigénio que oferece, permite, aumentar a inércia térmica da casa minimizando a necessidade de utilização de aparelhos com recurso a energias não renováveis.

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